Segundo Sérgio Sá Leitão, muitas empresas não deverão sobreviver aos efeitos provocados pelo coronavírus
Folha de S. Paulo em 27/03/2020
(acesse matéria original)
Os efeitos da atual pandemia de coronavírus na cultura de São Paulo seguirão até dezembro, mesmo depois que as contaminações pela doença começarem a cair. A avaliação de Sérgio Sá Leitão, que comanda a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do estado, é que serão necessários nove meses para que a situação se estabilize.
De acordo com o secretário, a fase atual de impacto direto nas áreas de cultura deve durar três meses. Depois disso, serão necessários mais seis meses de recuperação.
“É o cenário mais realista nesse momento”, diz. “Você tem três meses de paralisia total e depois seis meses de recuperação. Fomos de cem a zero em duas semanas, mas o contrário levará seis meses”, afirmou em entrevista por telefone.
Mas essa reabilitação não será para todos, diz Sá Leitão. Segundo ele, a pasta trabalha com a certeza de que nem todos os negócios do setor conseguirão atravessar o que ele chama de “tempestade”. “Minha grande preocupação é que, nesse período atual, não necessariamente todo mundo consiga se manter incubado, esperando a fase de recuperação”, afirma.
“Então a recuperação não será para todos, lamentavelmente. Precisaremos ver, quando esse período mais agudo de crise passar, o que haverá para recuperar, o que terá sobrevivido.”
Nesta semana, o governo estadual anunciou a ampliação de linhas de crédito para o setor. Nas semanas anteriores, a gestão de João Doria já havia anunciado R$ 500 milhões de crédito subsidiado para empresas do estado, incluindo das áreas de cultura, economia criativa, comércio e turismo.
Agora, pequenos negócios poderão recorrer a linhas de microcrédito por meio do Banco do Povo, que totalizam R$ 25 milhões, e estarão sujeitas a condições especiais, como redução das taxas de juros e ampliação dos prazos de pagamento.
A estratégia do governo paulista para amortecer os impactos na área se ancora em três frentes: disponibilização de linhas de crédito, melhoria das condições para a liberação de recursos e o lançamento e manutenção de editais do Proac —o que deve ocorrer em breve.
“Não acho que seja o suficiente, mas é o que está ao alcance do estado de São Paulo", diz Sá Leitão. "Por enquanto, infelizmente, o governo federal ainda não lançou nada formatado para o setor cultural e criativo, um dos mais afetados pela crise”, diz.
Sá Leitão, que esteve à frente do extinto Ministério da Cultura até aceitar o convite do governador paulista João Doria para integrar a equipe do tucano no governo paulista, estima que a perda para o setor, em São Paulo, será de cerca de R$ 34,5 bilhões, o equivalente a 1,7% do PIB do estado. Os números preocupam também por seu peso na economia nacional. De acordo com o secretário, 50% do valor relacionado à economia criativa no Brasil vêm de São Paulo.