Marcela Paes para Estadão em 19 de março de 2020 (acesse matéria original) Um dos maiores polos culturais do Brasil, o Sesc – com 8 mil funcionários e público semanal de 650 mil pessoas – fechou todas as suas unidades até 31 de março. Mas o prazo pode ser estendido. Segundo Danilo Miranda, salários de funcionários e a saúde financeira da instituição estão garantidos por hora, “Ainda não se pode mensurar o impacto da quarentena no setor cultural como um todo, temos que considerar os nossos artistas e instituições ligadas à cultura, como parte também da economia. Na opinião de Miranda, “seria conveniente que houvesse injeção de recurso do governo para segurar a situação daqueles que a essa altura pararam de produzir e de trabalhar”. Leia abaixo a entrevista com o diretor da instituição. Dá pra ter uma ideia do impacto do fechamento das unidades a longo prazo? No longo prazo nós teremos um problema muito grave se a gente realmente não puder retornar com as nossas atividades normais, porque o que nós fazemos tem um caráter de essencialidade para população. Atendemos cerca de 40 mil idosos por mês, justamente as pessoas que estão no grupo de risco. O Sesc, além da programação cultural, tem muitos serviços prestados de alimentação, ligados à saúde, odontologia e à assistência. Inicialmente vocês ficam fechados até 31 de março. Acha que pode se estender? Olha, o nosso primeiro momento é por 15 dias, até o dia 31 de março. Faremos uma reavaliação mais próxima no final do mês, para saber se nós vamos estender mais um pouco ou se realmente vamos retomar. Se vamos retomar tudo ou se vamos retomar parcialmente, tudo isso vai ser resolvido mais pra frente. Então, por enquanto, diante da emergência se atua de maneira emergencial. No pior cenário, se todas as unidades ficarem fechadas por cerca de dois meses, isso teria um impacto econômico grande na instituição? Eu diria que do ponto de vista econômico e financeiro não é um impacto tão relevante, porque grande parte das nossas atividades, ou quase todas, são subsidiadas e não rentáveis. Quanto a salários, isso não vai ter nenhuma implicação prática. Os funcionários estão recebendo normalmente e seguem com o trabalho. Muita gente está trabalhando em casa, aqueles que podem fazer isso. E quanto aos espetáculos que foram cancelados? Sim, tem o prejuízo para os artistas. Uma parte dos artistas que estavam programados não terão a sua atividade. Isso significa um prejuízo grande para os funcionários dessa cadeia toda. O que o governo poderia fazer para minimizar o impacto dessa crise no setor cultural? Os cancelamentos de peças, teatros fechados, cinemas e museus… Olha, é difícil, mas assim como existe toda uma preocupação de incentivo para a economia, deveria existir para as instituições, empresas e os profissionais envolvidos na cadeia cultural. Eu não tenho a fórmula resolvida, mas certamente, agora, temos que considerar os nossos artistas e instituições ligadas à cultura como parte também da economia. Não existe nenhuma atenção para a cadeia cultural neste momento. Seria conveniente que houvesse injeção de recursos do governo para segurar a situação daqueles que a essa altura pararam de produzir e de trabalhar em função do coronavírus. Sem dúvida nenhuma, essa me parece a primeira solução. Incentivo à atividade agora não dá, porque nesse momento estamos retidos. Você conversou com outras pessoas relacionadas a instituições culturais? No começo da situação troquei figurinhas com pessoas do Instituto Cultural Itaú, Tomie Ohtake, CCBB e Secretaria da Cultura para pensarmos em coisas práticas, como o momento certo de fechar, mas não articulamos nenhum plano futuro. Esse processo vai ser gradativo à medida em que a situação se agrava ou melhora. A situação do Sesc é mais complexa, não somos um simples conjunto de salas de espetáculos. São 8 mil funcionários, servíamos 17 mil refeições, prestávamos assistência odontológica e atendíamos a muitos idosos, crianças. Vocês serviam 17 mil pessoas diariamente. O que fazer com esses alimentos estocados? Vocês vão perder parte da comida? Nós temos um sistema de refrigeração e com câmeras frigoríficas em todas as nossas unidades que podem conservar boa parte dos perecíveis dentro das normas sanitárias. Aquilo que eventualmente não pudermos estocar, vai ser distribuído da melhor maneira possível para população. Como você, pessoalmente, está lidando com o problema? Estou lidando com as questões do Sesc todo pelo telefone. E recomendo para todo mundo que constitui grupo de risco, como eu, que tenho 77 anos, que façam isso. Temos que ficar atentos agora. Por outro lado, tenho esperança que esse problema não demore muito e a gente retorne rapidamente à normalidade./MARCELA PAES