Medida será válida por 15 dias e restringe funcionamento do comércio. SP registra 15 mortes pelo novo coronavírus.
Por Tatiana Santiago e Rikardy Tooge, G1 SP em 21/03/2020 (acesse matéria original)
“A partir da próxima terça-feira, 24 de março, nós decretamos quarentena aos 645 municípios do estado de São Paulo. Isso implica na determinação, na obrigação, do fechamento de todo o comércio e serviços não essenciais à população em todo o estado de São Paulo pelo período de 15 dias", disse Doria durante coletiva de imprensa no Palácio dos Bandeirantes, na Zona Sul de São Paulo.
"Esta medida poderá ser renovada, estendida ou suprimida se houver necessidade, mas ela faz parte das informações que nós temos, embasadas da Secretaria de Saúde e do Centro de Contingência do Covid-19”, acrescentou o governador.
Os hospitais, clínicas, farmácias e clínicas odontológicas, públicas ou privadas, terão o funcionamento normal.
As transportadoras, armazéns, serviços de transporte público, serviços de call center, petshops, bancas de jornais, táxis e aplicativos de transporte continuam funcionando com as orientações dos sanitaristas.
Os serviços de Segurança Pública, tanto estadual, quanto municipais, continuam funcionando normalmente. Os bancos e lotéricas também continuam abertos. As indústrias devem continuam operando, já que não têm atendimento ao público em geral.
"Quero esclarecer também que os serviços essenciais nas áreas de saúde pública, alimentação, abastecimento, segurança e limpeza deverão seguir funcionando", ressaltou o governador.
"Todo o sistema de segurança pública e segurança privada continuam a operar normalmente. Por óbvio, nos seus municípios, as guardas municipais, no âmbito do estado: polícia militar, polícia civil, corpo de bombeiros, sistema prisional, polícia científica, todo o funcionamento regular", afirmou Doria, lembrando que as férias e licenças desses profissionais já foram revogadas neste período.
Já os bares e restaurantes devem fechar e só poderão atender por delivery. A medida também afeta as padarias de todo o estado que trabalham com refeições.
"As ações de bares, restaurantes, similares, assim como a parte de alimentação preparada das padarias sofrerão neste período de coronavírus, obviamente, uma transformação. O uso de delivery é uma forma criativa de seguirem funcionando e manterem os empregos de seus profissionais."
De acordo com o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), na terça (24) será publicado um decreto municipal para orientar os fiscais como devem agir na fiscalização dos estabelecimentos.
Doria afirmou que irá usar a Força Policial, caso necessário, para evitar a aglomeração de pessoas. “Vamos adotar medidas policiais para evitar bailes funks”, declarou.
Teste de medicamento contra a Covid-19
Algumas pesquisas indicaram que a hidroxicloroquina e cloroquina podem ser utilizadas no tratamento do Sars-Cov-2. Mas não há nenhuma comprovação sobre o benefício da substância no tratamento do novo vírus. Apesar disso, alguns hospitais privados de São Paulo, como o Prevent Senior, passaram a usar a medicação.
"Existem algumas publicações científicas que falam do efeito favorável de duas situações. O primeiro, o uso da cloraquina individualmente e, depois da cloroquina com azitromicina. São trabalhos iniciais, com número pequeno de voluntários. Então, os resultados ainda não são suficientes para que nós tenhamos conclusões a respeito. O que é preciso fazer agora: aumentar o número de voluntários, à semelhança do que ocorre em outros 200 e tantos protocolos científicos de outros medicamentos em todo o mundo", afirmou David Uip, coordenador do Centro de Contingência da Covid-19.
Dois hospitais privados começaram a fazer protocolos de pesquisa utilizando a associação de da azitromicina com cloroquina.
"Eu entendo que, sendo protocolos de pesquisa avaliados pelos comitês de ética e aprovados pela Conep, tudo bem. Mas há também uma sistematização para o uso dos medicamentos. Esses são medicamentos clássicos, conhecidos por todos nós, então ele ultrapassa a necessidade iniciais de segurança de uso porque já há segurança na utilização em outras doenças", lembrou sobre a falta do medicamento nas farmácias.
A Secretaria Estadual da Saúde recebeu a doação do medicamento por uma rede de farmácias e que está em fase de entrega.
Autópsia Virtual
De acordo com José Henrique Germann, o governador assinou um decreto nesta sexta-feira (20) para especificar como serão emitidos os atestados de óbitos dos casos suspeitos de coronavírus e os corpos dos mortos não precisarão mais ir para o Serviço de Verificação de Óbito (SVO), local em que é realizada a autópsia para mortes que não violentas. Será feita uma autópsia virtual.
"Esses óbitos não deverão ir mais para o SVO e nem para o Instituto Médico Legal, a não ser que seja um caso de violência. Então, todo caso de violência preserva a ida para o Instituto Médico Legal independentemente de qual seria a causa da morte. Os outros [casos], vai ser feita uma autópsia, que se chama 'oral' [o secretário se confundiu, ele quis dizer "virtual'], que é feita com familiares, médicos, enfim, o médico que assina o atestado [de óbito] faz essa autópsia virtual", disse Germann.
"Em seguida, são colhidos os exames para a detecção do coronavírus. Esse exame vai para o Instituto Adolfo Lutz e o cadáver pode ser sepultado. Qualquer modificação a respeito será feito a posteriori. Nós estamos prevendo uma situação de preparo, se tiver um aumento no número de óbitos", completou.
Críticas a Bolsonaro
Doria aproveitou para criticar o presidente Jair Bolsonaro que censurou as medidas adotadas por ele e pelo governador do Rio de Janeiro para impedir o avanço da doença. "Não é momento de política, de campanha eleitoral, de agressões de nenhuma ordem, todos os brasileiros tem que estar unidos.”
"Com decepção e tristeza. Como governador do estado, eu gostaria que o país tivesse um presidente que liderasse o país em uma crise como essa e não minimizasse problemas e dissesse que o coronavírus é uma 'gripezinha' ou relativizasse uma questão tão grave para o país e pára os brasileiros nesse momento", disse Doria.
“Não é uma marolinha, não é férias que as pessoas estão tendo, é isolamento social. É um ato de humanidade, de respeito ao próximo”, complementou o prefeito Bruno Covas.
Mortes
A Secretaria Estadual de Saúde confirmou neste sábado que há 15 mortes causadas pelo novo coronavírus no estado de São Paulo. Com o novo balanço, o total de mortes pela doença no país chega perto de 20.
As secretarias estaduais de Saúde e o Ministério da Saúde divulgaram neste sábado (21), mais de mil casos confirmados de novo coronavírus (Sars-Cov-2) no Brasil em 25 estados e no Distrito Federal. São quase 20 mortes no Brasil.
Mortes na Prevent Senior
A operadora de saúde onde ocorreram as cinco primeiras mortes informou que em sua rede há 33 pacientes na UTI. Desses,12 tiveram exames confirmados para a doença Covid-19. Os outros 21 aguardavam o resultado do exame até a última atualização desta reportagem.
Em nota, a Prevent Senior diz ainda que há 90 pacientes "em acomodação apartamento, sendo 16 positivos para Covid-19 e 74 aguardando resultado do exame".
Doações de sangue
Ao informar sobre a primeira morte de paciente como coronavírus, o governo do estado de São Paulo fez um alerta e um pedido à população da cidade de São Paulo para que façam doações de sangue pois, segundo o coordenador de Centro de Contingenciamento para o Coronavírus em São Paulo, o médico David Uip, os bancos da capital estão "praticamente vazios".
"Eu preciso dar um informe, que preciso de muito apoio de vocês: os nossos bancos de sangue estão praticamente sem sangue. O banco de sangue que tem mais sangue, tem sangue hoje para praticamente uma uma semana", declarou.
O governo de São Paulo avalia que o surto de coronavírus deve durar "de quatro a cinco meses". No entanto, as medidas restritivas adotadas pela administração estadual, como a suspensão das aulas e a restrição de eventos (leia mais abaixo), não devem ser aplicadas durante todo este período.
Medidas de contenção do vírus
A pandemia de coronavírus que atingiu o Brasil tem levado o governo e a prefeitura de São Paulo a tomarem uma série de medidas para impedir aglomeração de pessoas. O governador João Doria anunciou nesta quarta-feira (18) o fechamento de todos os shoppings centers e academias da capital paulista e da região metropolitana de São Paulo para deter a propagação vírus. Ele também recomendou a suspensão de missas e cultos na Grande SP para conter o coronavírus.
Os shoppings têm até a próxima segunda-feira (23) para fechar as portas e o fechamento deve durar preliminarmente até o dia 30 de abril. A medida não se aplica a shoppings do interior e do litoral, apenas da Grande São Paulo, segundo o governo. Por meio de nota, a Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (ALSHOP) informou que irá cumprir integralmente a determinação dos governos estaduais quanto ao fechamento dos shoppings até a data estipulada.
A Prefeitura de São Paulo, por sua vez, proibiu o funcionamento do comércio a partir de sexta-feira(20). Apenas serviços essenciais e de alimentação continuarão funcionando, como supermercados, padarias, farmácias, restaurantes, postos de gasolina, lojas de conveniência e de produtos para animais, além de feiras livres. O resto do comércio deve paralisar as atividades até 5 de abril.
Segundo o prefeito Bruno Covas, a medida não afeta os estabelecimentos de serviços da capital paulista e nem as praças de alimentação, supermercados, bancos e outros serviços que funcionam dentro dos shoppings. Porém, as lojas desses shoppings centers da capital deverão ser fechadas.
Vacinação em SP
O governo paulista também anunciou que a vacina contra a gripe será oferecida gratuitamente em farmácias a partir do dia 13 de abril. A campanha de vacinação contra o vírus influenza começa na próxima segunda-feira (23) nos postos de saúde.
A vacina contra a gripe não protege contra o novo coronavírus, mas médicos destacam que é importante que a população esteja imunizada contra a gripe comum para facilitar o diagnóstico do novo vírus.
“Nas farmácias, a vacinação será gratuita e válida a partir do dia 13 de abril e nos postos de saúde a partir do dia 23 de março”, disse o governador João Doria.