Decreto será publicado no Diário Oficial de sábado (21). Medida também foi adotada pelo prefeito Bruno Covas para a cidade de São Paulo.
Por Patrícia Figueiredo e Tatiana Santiago, G1 SP em
O governador João Doria (PSDB) declarou, na tarde desta sexta-feira (20), que vai decretar estado de calamidade pública no estado de São Paulo diante da epidemia do novo coronavírus. O decreto será publicado no Diário Oficial deste sábado (21) e vai permitir que o governo tome medidas de emergência. O prefeito Bruno Covas (PSDB) também adotou a mesma medida para o município.
"O reconhecimento do estado de calamidade pública no estado de São Paulo a partir de amanhã, sábado, dia 21 de março, com a publicação no Diário Oficial do estado. O objetivo desta medida não é gerar pânico e nem pavor, mas gerar facilidade de ações do governo e dos 645 municípios do estado de São Paulo”, disse Doria durante coletiva de imprensa no Palácio dos Bandeirantes.
De acordo com Doria, a medida vai permitir dar agilidade às ações do governo na compra de produtos. “O decreto simplifica o processo de compra e contratações de serviços essenciais, tira qualquer burocracia e protege os gestores públicos dessas medidas dando mais agilidade e rapidez ao governo nesse enfrentamento”.
O governo determinou ainda a suspensão de serviços públicos estaduais não essenciais a partir de segunda-feira (23). Para o governador, neste momento, a redução de público provocada por medidas de restrição do comércio e das escolas está sendo o suficiente pelas orientações sanitárias.
Repartições públicas como o Poupatempo, Detran e Junta Comercial do Estado de São Paulo vão fechar as portas e farão atendimento apenas on-line.
Serão fechados ainda equipamentos públicos como zoológicos e todas as unidades de conservação estaduais, como Horto Florestal, Jardim Botânico, Parque Ecológico do Tietê, entre outros do estado, até o dia 30 de abril. Equipamentos esportivos, como o Complexo do Ibirapuera, também devem ter as atividades suspensas.
Doria aproveitou para criticar a atitude do deputado federal Eduardo Bolsonaro que provocou uma crise diplomática entre China e Brasil. “Quero prestar meu gesto de solidariedade à China e ao povo chinês. Não é justo que alguém, quem quer que seja, possa fazer alguma acusação à China ou ao povo chinês", afirmou ele.
O estado tem 286 casos confirmados da doença e 5 óbitos."Dos casos internados em terapia intensiva, casos graves, nós estaremos computando, para efeito de estatísticas, apenas aqueles que tiveram a confirmação diagnóstica do coronavírus. Hoje nós temos 24 pacientes em UTI, confirmados, todos em hospitais privados, nenhum em hospital público", disse José Henrique Germann, secretário da Saúde.
Cidade de SP
O prefeito Bruno Covas (PSDB) também anunciou que vai decretar estado de calamidade para o município.
“Seguindo a linha de trabalho em conjunto da Prefeitura de São Paulo e governo do estado de São Paulo também no Diário Oficial de amanhã nós teremos o decreto assinado por mim de reconhecimento de situação de calamidade pública na cidade de São Paulo. Isso permite ao governo municipal uma série de agilidades pra poder tomar as decisões e efetuar as decisões tomadas pelo secretariado que tem se reunido diariamente e tomar as medidas cabíveis”, disse.
A Prefeitura de São Paulo vai instalar dois mil leitos para atender pacientes com doenças de baixa complexidade no Pacaembu, na Zona Oeste de São Paulo, e no Anhembi, na Zona Norte.
“Serão ao total mais 490 leitos de UTIs aqui na cidade de São Paulo, nós vamos dobrar o número de UTIs, eram 505, vamos acrescentar mais 490 leitos. E também anunciando as primeiras ações de transformações de alguns equipamentos em verdadeiros hospitais de campanha, leitos de menor complexidade, serão 200 leitos lá no Pacaembu. Então, nós vamos adaptar o estádio do Pacaembu, isso já foi conversado com o novo concessionário para adaptar esses leitos de observação para poder esvaziar e não ter nenhuma correria aos hospitais que devem ficar prontos em duas semanas e mais 1.800 no Anhembi. No total, são mais 2 mil leitos de baixa complexidade", segundo Covas.
Mortes
A Secretaria Estadual de Saúde confirmou nesta quinta-feira (19) a quinta morte pelo coronavírus em São Paulo. O paciente é um homem de 77 anos, com comorbidade, que residia na capital paulista e estava internado no Hospital Sancta Maggiore, da rede Prevent Senior.
A operadora de saúde informou que em sua rede há 33 pacientes na UTI, sendo que 12 tiveram exames confirmados para a doença Covid-19. Os outros 21 aguardavam o resultado do exame até a última atualização desta reportagem.
Em nota, a Prevent Senior diz ainda que há 90 pacientes "em acomodação apartamento, sendo 16 positivos para Covid-19 e 74 aguardando resultado do exame".
Dentre os 286 pacientes, 4 residem em outros estados, mas tiveram a confirmação em São Paulo, e 2 vivem em outro país. A maior parte dos casos (259) está na capital, mas há casos confirmados em outros 16 municípios do estado.
Ao todo, país vai a 7 casos de morte em decorrência do Coronavírus no Brasil. No Rio de Janeiro, duas mortes foram confirmadas nesta quinta-feira (19).
Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil tem ao todo 621 casos confirmados de novo coronavírus em todo o território nacional. A maioria dos casos confirmados se concentram justamente em São Paulo (286 confirmados) e Rio de Janeiro (65 casos).
Casos confirmados pela Secretaria de Saúde
As três mortes confirmadas na quarta (18) são de homens, com problemas de saúde anteriores e idades de 65, 81 e 85 anos, segundo o órgão. Todos foram atendidos em hospital privado da capital paulista. O paciente de 81 anos é morador do município de Jundiaí e os demais de São Paulo.
O primeiro caso no Brasil de morte de pessoa infectada pelo novo vírus (Sars-Cov-2) foi confirmado nesta terça-feira (17) na capital paulista. Já no começo da tarde desta quarta-feira (18) outras duas mortes foram registradas por uma rede de hospitais particulares de São Paulo, e os registros foram confirmados pela secretaria.
"Eu não me conformo de perder meu filho em um problema tão grave. Eu só espero que as pessoas acreditem - esse problema existe e está aqui", disse a senhora de 82 anos.
Primeiro caso
O estado de São Paulo registrou o primeiro caso no Brasil de morte pelo novo coronavírus nesta terça-feira (17). A primeira vítima é um homem de 62 anos que estava internado no Hospital Sancta Maggiore, da Rede Prevent Senior, no Paraíso, Zona Sul da capital paulista.
A vítima morava na cidade de São Paulo e tinha histórico de diabetes e hipertensão, além de hiperplasia prostática — um aumento benigno da próstata que não é uma doença, mas uma condição comum em homens mais velhos e que pode causar infecções urinárias.
Segundo o infectologista David Uip, a vítima teve os primeiros sintomas da doença no dia 10 de março, sendo internada quatro dias depois, dia 14, e falecendo às 16h03 desta segunda-feira (16).
“Infelizmente o ocorrido foi o primeiro óbito aqui. Um homem morador de São Paulo internado num hospital privado e o diagnóstico de coronavírus foi feito também por um laboratório privado. Ele veio a óbito ontem 16h03 e não tem histórico. Fomos informados oficialmente hoje às 10h. Existem quatro outros óbitos neste mesmo serviço particular que estão sendo investigados. Assim que tivermos informações sendo ou não coronavírus vamos informá-los”, afirmou David Uip.
O secretário estadual da Saúde, José Henrique Germann, informou que o homem não tinha histórico de viagens ao exterior e está sendo tratado como caso de transmissão comunitária do vírus.
"Temos que repensar cada vez mais as medidas de prevenção, principalmente por se tratar de um óbito comunitário", declarou o secretário.
De acordo com estimativa do secretário estadual de Saúde paulista, José Henrique Germann, 20% dos pacientes registrados com coronavírus em SP estão em estado grave na UTI.
De acordo com o boletim do Ministério da Saúde desta quinta-feira (19), há transmissão comunitária do coronavírus em pelo menos cinco estados brasileiros até agora:
- Rio de Janeiro (capital)
- Belo Horizonte (capital)
- Santa Catarina (sul do Estado - região Tubarão)
- Pernambuco (Estado)
- São Paulo (Estado)
Revisão de protocolos
Para o infectologista David Uip, a morte do primeiro paciente está levando as autoridades paulistas a rever os entendimentos sobre os períodos de evolução da doença nos pacientes graves.
“Foi uma evolução rápida, da internação ao óbito. O caso desse [primeiro] paciente está fazendo a gente entender como se comporta a doença. Nós imaginávamos que o período de encubação da doença era de até 14 dias, mas a média está sendo de 6 a 8 dias até a doença se manifestar. Vamos inclusive sugerir ao Ministério da Saúde que diminua o tempo de quarentena de até 14 dias para dez”, disse Uip.
Sepultamentos
Na entrevista coletiva também foi esclarecido como será o trabalho dos agentes funerários durante o sepultamento de vítimas do coronavírus em São Paulo. No caso dos velórios, a orientação, segundo o secretário da Saúde, é de fechar o caixão para evitar o contato das pessoas. Caberá ao serviço de verificação de óbito liberar os corpos e já existe um protocolo específico para isso, segundo Paulo Menezes, coordenador do comitê de operações emergenciais (COE) da Secretaria Estadual de Saúde.
“A orientação é colocar o corpo num saco plástico, fechar e limpar externamente o saco com álcool, que é uma substância muito eficiente contra o coronavírus”, declarou Menezes.
Com o aumento do número de mortes ao redor do mundo, vários países já estabeleceram protocolos de segurança com relação aos mortos. A China proibiu funerais, assim como a Itália. A Espanha recomenda velórios sem aglomeração de pessoas, assim como o Ministério da Saúde do Brasil.
“Este óbito, infelizmente outros virão, não devem criar pânico na população. Essa é uma circunstância de quem lida com doente grave e muitas vezes a gripe se torna uma doença grave, a semelhança com a influenza. Nos EUA tem uma média de 30 mil óbitos por influenza por ano. Esperamos que não tenha mais nenhum óbito em São Paulo, mas a contingência de lidar com doentes graves implica em ter perdas, então isso não muda nada no estado a forma de entender a epidemia. E não deve chegar a população como algo inesperado e criar uma situação de pânico porque não é assim”, afirmou o infectologista Davi Uip.
Doações de sangue
Ao informar sobre a primeira morte de paciente como coronavírus, o governo do estado de São Paulo fez um alerta e um pedido à população da cidade de São Paulo para que façam doações de sangue pois, segundo o coordenador de Centro de Contingenciamento para o Coronavírus em São Paulo, o médico David Uip, os bancos da capital estão "praticamente vazios".
"Eu preciso dar um informe, que preciso de muito apoio de vocês: os nossos bancos de sangue estão praticamente sem sangue. O banco de sangue que tem mais sangue, tem sangue hoje para praticamente uma uma semana", declarou.
O governo de São Paulo avalia que o surto de coronavírus deve durar "de quatro a cinco meses". No entanto, as medidas restritivas adotadas pela administração estadual, como a suspensão das aulas e a restrição de eventos (leia mais abaixo), não devem ser aplicadas durante todo este período.
Medidas de contenção do vírus
A pandemia de coronavírus que atingiu o Brasil tem levado o governo e a prefeitura de São Paulo a tomarem uma série de medidas para impedir aglomeração de pessoas. O governador João Doria anunciou nesta quarta-feira (18) o fechamento de todos os shoppings centers e academias da capital paulista e da região metropolitana de São Paulo para deter a propagação vírus. Ele também recomendou a suspensão de missas e cultos na Grande SP para conter o coronavírus.
Os shoppings têm até a próxima segunda-feira (23) para fechar as portas e o fechamento deve durar preliminarmente até o dia 30 de abril. A medida não se aplica a shoppings do interior e do litoral, apenas da Grande São Paulo, segundo o governo. Por meio de nota, a Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (ALSHOP) informou que irá cumprir integralmente a determinação dos governos estaduais quanto ao fechamento dos shoppings até a data estipulada.
A Prefeitura de São Paulo, por sua vez, proibiu o funcionamento do comércio a partir de sexta-feira(20). Apenas serviços essenciais e de alimentação continuarão funcionando, como supermercados, padarias, farmácias, restaurantes, postos de gasolina, lojas de conveniência e de produtos para animais, além de feiras livres. O resto do comércio deve paralisar as atividades até 5 de abril.
Segundo o prefeito Bruno Covas, a medida não afeta os estabelecimentos de serviços da capital paulista e nem as praças de alimentação, supermercados, bancos e outros serviços que funcionam dentro dos shoppings. Porém, as lojas desses shoppings centers da capital deverão ser fechadas.
Vacinação em SP
O governo paulista também anunciou que a vacina contra a gripe será oferecida gratuitamente em farmácias a partir do dia 13 de abril. A campanha de vacinação contra o vírus influenza começa na próxima segunda-feira (23) nos postos de saúde. A vacina contra a gripe não protege contra o novo coronavírus, mas médicos destacam que é importante que a população esteja imunizada contra a gripe comum para facilitar o diagnóstico do novo vírus.
“Nas farmácias, a vacinação será gratuita e válida a partir do dia 13 de abril e nos postos de saúde a partir do dia 23 de março”, disse o governador João Doria em coletiva.